Menor e alcoólatra

Demorou (um ano e três meses, para ser exato), mas chegou. A Ford apresentou nesta quinta (17) o novo Focus 1.6 16V Flex. Equipado com o novo motor Sigma, o modelo substitui o Focus 1.6 Zetec RoCam de primeira geração. As vendas começam na segunda quinzena de janeiro, com preços que partem de R$ 49.900 para a versão hatch GL e R$ 54.400 para a sedã, oferecida apenas no pacote GLX com ABS. O motor 2.0 Duratec receberá a versão flex no primeiro semestre de 2010.

A principal diferença deste Focus para o modelo já existente nas concessionárias está sob o capô. Externamente, sai o logotipo 2.0 e entra o "Flex". Acompanhando o velocímetro subir (e o mostrador de combustível cair), dá para notar que há algo de diferente empurrando o carro.

Com 115 cv e 16,3 kgfm quando abastecido com álcool, o motor Sigma fabricado em Taubaté (SP) tem como destaque o peso - são modestos 76 kg, graças à adoção do alumínio em quase todo o motor - e a força em baixa rotação: 80% do torque já está disponível a 1.500 rpm, mesmo com o comando de válvulas não usando variador. Na prática, isso significa acompanhar o trânsito com o carro com quatro passageiros e ar-condicionado ligado sem precisar pisar no acelerador até o fundo.

Relações curtas de primeira e segunda marcha dão conta de embalar rapidamente o hatch, enquanto as duas últimas marchas foram alongadas para proporcionar economia de combustível e conforto. A 120 km/h, o motor gira a moderados 3.100 rpm. O preço da quinta longa é a necessidade de redução em boa parte das ultrapassagens, mas não é algo que incomode. A tarefa é facilitada pelos engates firmes, apesar de um pouco duros, da caixa manual IB5, a mesma encontrada na família Fiesta e Focus atuais.
 
Com o mesmo vigor da geração anterior, o novo Focus 1.6 16V flexível sofre do mesmo porém dos concorrentes alcoólatras: a sede excessiva. Segundo a fábrica, o modelo na opção hatch roda 7,5 km com um litro de etanol na cidade, enquanto na estrada o consumo cai para 10,3 km/l. Felizmente, o tanque de 55 litros dá conta do recado, evitando paradas frequentes nos postos de combustível.

Por dentro, o Focus 1.6 GLX traz um resquício da versão mais cara, mantendo os botões do controlador de velocidade, mesmo não tendo o equipamento nem como opcional. Aliás, o único item que pode ser adicionado ao pacote (que já inclui trio elétrico, ar-condicionado, direção hidráulica, MP3 player e airbag duplo) é o ABS, por R$ 1.000.

As diferenças crescem quando observamos a configuração GL, R$ 1.500 mais barata que a GLX. Apesar das bonitas rodas de 16 polegadas de liga leve esconderem a origem simples da versão, os retrovisores, maçanetas e régua sobre a placa traseira na cor preta denunciam o Focus mais espartano. Do lado de dentro, a simplicidade dá as caras na ausência de luzes de leitura, descança-braço e vidros elétricos traseiros, que dão lugar a duras alavancas.

A versão será rara nas ruas: a intenção da Ford é vender em maior volume o GLX equipado com ABS. Preterido na apresentação do motor Sigma, o Focus Sedan também recebeu o novo propulsor, mas a maior parcela das vendas ficará por conta do hatch, com 80% do volume. "Não iremos errar mais", afirmou Antonio Baltar, gerente de marketing da Ford, que apontou 2010 como "o ano do Focus". Mais barato na hora da compra e para abastecer, sem prejudicar seu desempenho, o Focus 1.6 16V Flex pode ser um sinal de que a Ford aprendeu com os equívocos passados.

Teste drive feito a convite da Ford