Carros duas portas vão de regra à mico, mas estão voltando

O mercado de automóveis tem regras próprias, como a “lei” dos carros preto e prata e dos veículos de quatro portas. Mas nem sempre foi assim. Até meados dos anos 90, eram os veículos com portas traseiras que eram mal vistos, sempre com a pecha de ser táxi. Até carros de luxo vinham com duas portas, obrigando a Fiat a desenvolver um Tempra exclusivo para o Brasil com essa configuração de carroceria.

Os carros de duas portas, no entanto, foram perdendo mercado até entre os populares e fez com que as fábricas diminuíssem a produção desses modelos. Hoje, são poucas as ofertas, e apenas Chevrolet Celta e Camaro, Fiat Mille, Uno e Palio, Ford Ka, Renault Clio, Peugeot 207, Volkswagen Gol G4 e Fox, Kia Koup, Audi A3 e Volvo C30 são vendidos com essa opção.

Mas os lançamentos não param de acontecer, como o recente Fiat Uno, prometido desde a chegada da segunda geração e que está disponível desde fevereiro. A Fiat espera que a nova versão ocupe 30% do mix do novo Uno. O antigo Mille é dividido entre 40% com duas e 60% com quatro. No Palio é de 26% e 74%, respectivamente. E, mesmo assim, a oferta se resume nos três populares da marca.

O Punto, que aqui é vendido somente com quatro portas, tem a versão de duas na Europa e no Brasil teria pelo menos dois compradores. Flávio Pichelli, gerente de informática, é proprietário de um modelo na versão Sporting 2008, mas gostaria de ter comprado com duas portas. “Tem o desenho mais esportivo e agressivo, deixando de lado a aparência de carro familiar”, explica. Rogério Moreno, também proprietário de um Punto, mas na versão 1.4, teria feito essa opção “por utilizar pouco as portas adicionais”.

Henrique Sampaio, gerente de marketing de produtos da Volkswagen, conta que a carroceria de duas portas representa 20% do mercado de Gol G4 e Fox. “São voltados para pessoas que não precisam das portas traseiras, como solteiros e quem precisa gastar menos na compra”. A quinta geração do Gol, disponível somente com portas traseiras, deve responder ao Uno com uma versão de duas entradas, mas Sampaio desconversa. “Não podemos comentar, pois é uma decisão estratégica”.

A Peugeot é a única a oferecer um “compacto premium” com essa opção. Segundo a montadora, 11% dos 207 sai com essa carroceria e atende justamente quem procura um visual mais esportivo. Outra justificativa da fábrica é a sensação de segurança que um modelo do tipo passa. Já veículos maiores, como o 307, têm rica oferta na Europa, mas não no Brasil. A Peugeot argumenta com a falta de procura, mas que poderia avaliar a hipótese caso houvesse demanda. O único hatch médio de duas portas no Brasil é o Audi A3 Sport.

O Uno

Para entender o uso de um carro de duas portas, escolhemos o último lançamento no segmento, o Fiat Uno. O carro custa a partir de R$ 26.650 e está disponível em todas as versões. A avaliada é a Attractive com motor de 1,4 litro que começa em R$ 29.840.

O fato de ter duas portas não interfere no desempenho ou na dirigibilidade, mas afeta diretamente o uso no dia a dia. Quem dirige para o trabalho, na maioria dos dias sozinho, é uma “mão na roda”. As portas dianteiras são maiores e facilitam e entra e sai do veículo. O problema é só ao estacionar em vagas mais apertadas.

No caso do Uno, em particular, um problema incomoda. Ao rebater o encosto dos bancos, ele não volta mais para o lugar de origem e fica completamente na vertical. Quem se sentar na frente vai ter de ajustar novamente. O mesmo acontece no banco do passageiro do Renault Clio. O do motorista tem a memória e isso não ocorre.

Quem tem filhos pequenos, então, deve esquecer um carro do tipo. Colocar uma cadeirinha é um trabalho que exige paciência. A entrada e saída de idosos também é prejudicada pelo assento dianteiro que corre pouco para frente. Então, antes de comprar um carro de duas portas, é preciso planejar bem, pois ele vai servir somente quem raramente leva mais de duas pessoas.