04/01/2010 - Rodrigo Ribeiro / Fonte: iCarros
Na indústria automotiva, exclusividade é um conceito bastante subjetivo quando se desmonta um modelo e comprova-se que o equipamento de um luxuoso está presente em um popular. E vice-versa. Este processo é bastante comum quando se tratam de empresas do mesmo grupo (caso da Peugeot-Citroën) ou parceiras (como Nissan e Renault).
O Chevrolet Agile, por exemplo, esperado como um projeto completamente novo, "estreou" motor e câmbio já presente na Meriva, Corsa (hatch e sedã) e Prisma. Ao entrar no carro, a sensação de deja vù aumenta: dos acionadores de seta do Astra belga, passando pelo miolo da chave de ignição do Corsa e chegando às luzes de iluminação interna do Vectra, muito dos componentes internos do Agile foram herdados de outros modelos da Chevrolet.
O aproveitamento de peças não é exclusivo do Agile – todas as montadoras possuem a política de aproveitar componentes já existentes, reduzindo custos e tempo de desenvolvimento de um novo projeto. Plataformas, motores e câmbio são as partes mais conhecidas de serem adotadas por mais de um carro. Porém o compartilhamento mecânico não para por aí.
Outro caso é o do Renault Symbol. Construído sobre a plataforma do Clio Sedan, o modelo deixa na cara uma das peças emprestadas: o painel de instrumentos com escala até 260 km/h é herdado do Mégane de penúltima geração, que, por sua vez, cedeu o cluster (peça completa com os mostradores) para a minivan Scénic e para o compacto Clio. Muda-se o grafismo do velocímetro e do conta-giros e pronto, o painel também foi adotado pela multivan Kangoo.
Se herdar peças de modelos mais caros já rende assunto para uma mesa de bar – como um compacto com velocímetro de sedã médio – o que dizer de pegar partes de uma Maserati? Pois foi isso que a Fiat fez, ao adotar o pisca-alerta lateral da Maserati 3200GT na família Marea e na Strada para exportação.
Caríssimos de serem desenvolvidos, os motores são os primeiros a serem “reciclados”. Principal alvo das críticas dos defensores de propulsores modernos, a GM adota a Família I (1.0, 1.4 e 1.8) e Família II (2.0 e 2.4) há mais de 20 anos. Mas ela não está sozinha: empurrando os modernos Fox, Gol e Polo está o EA-111, um motor de concepção dos anos 90. De cilindrada maior, o EA-113 2.0 sofre com os rivais mais modernos. Também pudera: o seu bloco é originário do clássico AP, que equipou o Santana nos anos 80.
Os franceses também são adeptos do compartilhamento: a PSA Peugeot Citroën que o diga. O motor 2.0 e o câmbio automático de quatro marchas é usado, somente no Brasil, por oito modelos, entre todas as opções de carroceria das famílias C4/307. Por dentro a sensação de "já vi isso antes" continua, como nos acionadores de seta e limpadores do 207, que era do 206 e foi adotado pelo novo Citroën C3.
O problema é que o uso excessivo do mesmo componente pode desvalorizar os modelos de luxo: o que pensar ao comprar um Touareg que usa a mesma chave canivete do Gol 1.0, que vale 11% do SUV? Ao menos o utilitário esportivo tem sangue nobre: ele e seu irmão Q7 derivam da mesma plataforma do Porsche Cayenne.
E cobrar caro não significa usar peças exclusivas. O segmento de luxo também está repleto de exemplos de compartilhamentos, do Audi R8 (cuja plataforma e tração é do Lamborghini Gallardo) até o exclusivo Rolls-Royce 200EX (que adota a mesma plataforma da BMW Série 7). Aproveitar o que não é visto é válido até para preços de seis dígitos.
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