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ESPECIAL: Paixão e tradição movem as oficinas especializadas

Empresários mantêm vivas partes da história automotiva ao trabalhar com peças raras

13/04/2012 - Thiago Moreno / Fonte: iCarros

Para quem acha que a manutenção de um carro popular já dá trabalho, há todo um mundo de pequenas oficinas que vivem para manter nas estradas carros que, algumas vezes, já foram esquecidos até pelas próprias montadoras. São peças que não existem, mecânicos despreparados e outros fatores que tornam a vida de quem tem um carro que não está na lista dos mais vendidos bem complexa, principalmente quando o carro “resolve” que não vai dar partida pela manhã.

Arranjar um mecânico que entenda os “caprichos” do famoso V6 de 3.0 litros da Alfa Romeo, ou oficina que tenha os equipamentos necessários para acompanhar a tecnologia de ponta dos carros alemães é complicado. Peças para um Gurgel, cuja fábrica faliu há quase 20 anos, então, é um trabalho de arqueologia automobilística, assim como “garimpar” aqueles adornos cromados das antigas Lambretta. Graças à determinação e a paixão de alguns, no entanto, esses pequenos pedaços da história sobre rodas continuam vivos com a ajuda de oficinas e lojas especializadas.

Yamauto: um japonês na história automotiva brasileira

Em 1968, Fusaki Yamanaka fundou uma fábrica de autopeças e, a partir de 1969, passou a fornecer componentes para a então recém-fundada Gurgel Motores. Não demorou muito para que, em 1973, a Yamauto se tornasse uma revenda da marca. Em 1980, a empresa conseguiu da Gurgel o status de oficina autorizada e, desde então, é o destino dos (poucos) proprietários de modelos da marca.
Com a falência da Gurgel, em 1996, a Yamauto abriu a oficina para atender a todos os tipos de veículo, mas, por causa do estoque e da experiência que possui, BR-800, Supermini, X-12 entre tantos modelos, sempre representam uma grande parcela do trabalho.

Roberto Yamanaka, filho do fundador, mantém o negócio da família com mais três mecânicos e dois funcionários administrativos. Para ele, a parte mais difícil é conviver com as adaptações que são feitas: “Difícil é convencer o proprietário de que o carro não é original. Dá dó”. Pena mesmo é o Brasil ter deixado de lado a história de sua maior indústria automotiva nacional ir à falência, enquanto o que sobrou dos carros da Gurgel se definha por falta de peças. Em tom solene, Yamanaka resume: “Com o tempo, arranjamos outros fornecedores de peças, mas é um negócio que eu sei que vai acabar um dia”.

Alfas-World: a Itália é quase aqui

Para se ter um Alfa Romeo, assim como para uma “bella ragazza”, não basta apenas ligar e chamar pra sair: é preciso lidar com um temperamento forte, item que vem de série. Isso não é tarefa para qualquer um. Nem mesmo para a Fiat, detentora da marca, que, no Brasil, chegou a fabricar modelos da Alfa nas décadas de 1970 e 1980. Depois de importar o sedã grande 164 e o hatch 145, entre outros, a montadora de Betim deixou de oferecer os modelos da Alfa Romeo.

A história de amor e ódio do empresário José Igino Muraca com a marca começou quando seu modelo 164 resolveu se envolver num acidente. Sim, resolveu. Para não ficar no prejuízo, Muraca passou a vender as peças do que sobrou do carro e a quantidade de telefonemas o surpreendeu: “Vendi tudo. Em um mês e meio, foi tudo embora”. Foi aí que ele percebeu que as pessoas não tinham noção de como mexer nos modelos da marca.

O ano era 1998, quando o empresário resolveu investir em uma oficina especializada em Alfa Romeo. Hoje, após comprar ferramental e treinar os mecânicos a partir do zero, a Alfas-World tem 12 funcionários que cuidam não só do “cuore” dessas máquinas, como também trabalham com funilaria, restauração e importação de modelos antigos. “Eu gosto de carros desde a infância e sou descendente de italianos. Transformei minha paixão em negócio e hoje vivo disso. Os mecânicos (de outras oficinas) têm medo de mexer em Alfa Romeo. Eu não”, destaca Muraca.

Bimmer: “willkommen” aos carros alemães

“Imagine o que é queimar uma central eletrônica de um Porsche?!”, declarou o empresário Carlos Alberto Candeo, dono da oficina Bimmer, especializada em carros alemães. O negócio começou como uma revenda de automóveis há 25 anos e, desde 2009, Candeo coordena uma equipe de 20 funcionários que dão suporte à complexa tecnologia alemã fora das redes de concessionários. Lá estão scanners e aparelhos eletrônicos específicos para chegar com precisão germânica à raiz dos defeitos.

Como os valores em oficinas autorizadas podem chegar até a superar o preço de revenda do carro, o empresário viu aí um nicho de mercado a ser atendido. Com tempo, a clientela da Bimmer demandou uma funilaria, que hoje divide espaço com a oficina. Trabalho não falta, como conta Candeo: “Chega a ter mais de 60 carros por dia aqui e temos de dar conta”. 

Latorre: Da primeira moto do Brasil às Vespa e Lambretta

Na época em que mulher era chamada de “broto” e Rita Pavone fazia sucesso nas rádios, Vespa e Lambretta faziam sucesso entre os jovens como opção barata de transporte. Elas também contam com uma loja especializada: a Latorre. O nome é de família e a tradição é antiga: “A loja foi fundada por meu pai em 14 de março de 1937”, conta orgulhoso Luiz Carlos Latorre, filho de Luiz Latorre, falecido em 1981. Latorre, o pai, foi piloto de corridas e chegou até a ganhar uma edição das 24 horas de Interlagos.  Miguel Latorre, o avô, foi o responsável por trazer a primeira motocicleta ao Brasil, nos idos de 1909.

A loja começou as operações com a importação de motocicletas europeias e por sua garagem já passaram Zundapp, Ducati e Moto Guzzi. Porém, o governo brasileiro dificultou as importações de motos e carros na década de 1970 (soa familiar, não?) e o pai de Latorre passou a comercializar os modelos Vespa, que eram montados em Manaus.

Com a morte do pai, Luiz Carlos deixou de lado a carreira na advocacia passa assumir a loja e a oficina, essa, porém, foi fechada em 1987 como resultado da hiperinflação da época: “eu fazia um orçamento e, na semana seguinte, o valor estava desatualizado e o cliente não aceitava pagar a diferença”, conta.

Pouco antes, no final de 1985, a Moto Vespa do Brasil passava a fabricar o modelo PX 200, que Latorre deixa a modéstia de lado e garante: “Da PX 200 eu tenho quase todas as peças”. O ano de 1993 foi o último de operação da marca no País. Agora, só se pode ter Vespa com a ajuda de um importador. 

O que sobrou hoje é apenas uma sombra do que a Latorre, a loja, já foi, mas a sua Lambretta ou Vespa não vai parar por falta de peças. Nas prateleiras estão lanternas, velocímetros, cilindros, adesivos e até acessórios de época que Luiz Carlos mantém no estoque ou pede a importação dos componentes.

Se não tem mais a oficina, o telefone ao menos não para. São proprietários que buscam a experiência de Latorre para arrumar suas Vespa ou Lambretta. Divertido, Luiz Carlos comenta: “Só não posso fazer um 0800, mas ajudar eu posso”. Mas será que dá pra viver do passado? A resposta de Latorre é mais inusitada que a pergunta: “Não é uma maravilha, mas eu não estou com cara de fome, estou?”.

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