22/02/2024 - Henrique Koifman / Fonte: iCarros
Em sua geração atual, a terceira, lançada em 2022, o Citroën C3 caiu no popular – afinal, até aqui ele era um compacto premium e, agora, batalha no concorrido segmento de entrada. A versão Feel com motor 1.0 aspirado e câmbio manual tem exatamente esse foco. Seria ela uma boa escolha?
Antes de passar a primeira, informo que a Feel 1.0, de R$ 84 mil, não é a versão mais em conta do C3. Essa posição cabe à Live, que traz exatamente a mesma base mecânica, mas é menos equipada e custa R$ 73 mil.
Logo que foi lançado, o C3 só estava disponível com o motor 1.6 de 16 válvulas flex de até 120 cv de potência, que equipa as versões mais caras, e câmbio automático. Alguns meses depois, chegaram as opções com motor Firefly 1.0 aspirado de três cilindros, de até 75 cv e câmbio manual – por custo menor.
Citroën C3 1.0 quer ser popular...
Para quem não ligou o nome ao motor, esse Firefly é o mesmo que hoje equipa as versões mais baratas do Fiat Argo e, também, do irmão Peugeot 208 – que tem a mesma plataforma e é produzido na mesma fábrica que esse Citroën, em Porto Real (RJ).
E, contrariando o que seria de se esperar, ainda que obviamente menos potente, esse motor 1.0 aspirado (ou seja, sem turbo) caiu bastante bem no C3. Ele fornece força suficiente para rodar pela cidade sem maiores aborrecimentos, e ainda cobra pouco na bomba de combustível para fazer isso.
Durante o tempo em que rodei com ele, sempre com etanol no tanque e em trânsito predominantemente intenso (traduzindo: raramente acima dos 50 km/h), o computador de bordo me informou um satisfatório consumo médio de 9,5 km/litro.
Com bom torque em baixas rotações, casado com um câmbio de cinco velocidades bem escalonadinho e macio, o motor torna a direção do C3 bem agradável. Com boa posição de dirigir (altinha) e ótima visibilidade, o carro é ótimo de estacionar, graças ao seu desenho quadradinho.
Durante esses dias em que convivi com ele, cheguei a levar mais gente a bordo e até subi algumas ladeiras mais íngremes. É claro que, para isso, precisei usar as machas de mais força e ouvir o motor gritar ali na frente, mas no geral, achei o carro bom para guiar de forma tranquila.
Tranquilidade esta, aliás, reforçada pela maciez do ótimo conjunto de suspensão, macia, mas que permite curvas seguras, dentro de um padrão razoável de condução, claro. Para ser sincero, a suspensão foi a única coisa nesse carro que me fez lembrar de seus confortáveis e caprichados antecessores.
É que, para conseguir um preço realmente competitivo nesse segmento tão disputado, além de um motor menos potente, a Citroën teve de simplificar ou mesmo excluir muita coisa nesse C3 em relação aos anteriores. Uma delas foi o isolamento acústico da cabine: em rotações e velocidades mais altas, o nível de ruído perde a timidez.
Aposta na simplicidade
Ainda que seja uma versão intermediária, esse C3 Feel 1.0 tem um acabamento simples, com painéis de plástico rígido que nem disfarçam seu espírito básico com texturas ou qualquer revestimento localizado.
A exceção são partes do tablier (o painel dianteiro), onde o plástico tem cor azul metálica – especialmente o que fica diante do carona. Por outro lado, o desenho desse mesmo painel é bem interessante e original, e ganha ares hightech por conta da grande tela de 10 polegadas da central de multimídia, bem ao centro.
Bem servida de conectividade e com ótima resolução, ela funciona associada a um bom conjunto de alto-falantes, com qualidade de som até um pouco acima da média para o segmento. Mas chega a contrastar com o simples painel de instrumentos – onde um velocímetro digital é o centro das atenções.
Além dele, há indicadores de combustível e de temperatura e algumas informações do computador de bordo, além de uma coleção de leds coloridos de aviso. É funcional, mas me lembrou modelos que testei lá nos anos 1990.
Outro “marco da simplicidade” está na chave do carro, que não é sequer do tipo canivete (dobrável), Fazia tempos que não via uma assim. E, fechando esse capítulo de faltas, a maior delas: o C3 traz apenas os dois air-bags frontais obrigatórios – enquanto boa parte da concorrência oferece quatro ou seis deles.
Citroën C3 Feel é pequeno, mas parece maior
O espaço interno é um dos pontos altos desse Citroën C3. Por ser altinho, ele dá uma sensação de amplitude para seus ocupantes e parece ser maior do que é. Ainda assim, para sua categoria, oferece acomodação bem satisfatória para quatro adultos – o assento central de trás é prejudicado pelo console central, onde há duas tomadas USB-c.
A forração dos bancos é feita em tecido simples, mas eles são visualmente interessantes e com boa densidade. Na frente, consegui ajustar o meu banco também em altura e guiei por horas sem maiores esforços, a despeito da ligeira falta de apoio lateral para o corpo – mas aí já seria querer demais para um carro dessa categoria.
No porta-malas, cabem até 300 litros de bagagens e o formato do espaço ajuda na arrumação. O único complicador é a altura do painel traseiro, que nos obriga a erguer um pouco mais as malas e sacolas para poder guardá-las e retirá-las lá do fundo.
Além do desenho, outra coisa que faz com que o Citroën C3 pareça maior é sua boa distância em relação ao solo. São 18 cm, que combinados com os 23 graus do ângulo de ataque (dianteiro) e 39 graus do ângulo de saída (traseiro) dão a ele um pouquinho mais do que só “um jeito de SUV”.
São essas medidas, também, que tornam o C3 é um compacto urbano capaz de (música de aventura ao fundo, por favor) enfrentar com especial desenvoltura desafios como quebra-molas ou valetas supernutridas, crateras esfomeadas e outros obstáculos que nos espreitam pelas cidades e estradas brasileiras.
Abusando um pouco, comprovei isso atravessando uns 2 km de estrada de terra, bem esburacada e cheia de pedras, com muita tranquilidade e surpreendente conforto (perdão pela sujeira que deixei na carroceria do carro, Citroën, foi em boa causa). Nada de raspar o fundo ou quicar.
O que concluí sobre o Citroën C3 Feel 1.0
A despeito de seu visual aventureiro, claro, esse C3 1.0 foi feito para a cidade. E é nela que concorre com modelos como VW Polo Track (R$ 87.290), Hyundai HB20 Comfort Plus (R$ 86.490) e Chevrolet Onix 1.0 (R$ 85.290) – todos com motores 1.0 aspirados de três cilindros e câmbio manual.
E tem ainda como rivais seus “primos” da família Stellantis, Fiat Argo Drive (R$ 84.490) e Peugeot 208 Like 1.0 MT (R$ 89.990,00) – estes, com a mesmíssima mecânica dele.
Acho que, em termos de estilo, o C3 é justamente o mais diferente (ou menos igual, você escolhe) dessa competente turminha, embora possa ficar atrás de alguns deles, sobretudo em acabamento interno e itens de série.
É, talvez, o único deles que não associa sua imagem/estilo a supostas (e inexistentes) esportividade e performance. Vai mais para o lado da roupagem aventureira de um SUV de bolso – que, surpreendentemente, veste até com certa propriedade.
Ele é econômico, bom de guiar e, no geral, cumpre direitinho sua proposta. É, portanto, uma boa opção de compra.
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