24/07/2022 - Rodrigo França/RF1 / Foto: Divulgação e acervo pessoal / Fonte: iCarros
O leitor mais assíduo de noticiário automotivo como você que está agora no iCarros já deve ter pensado: estes jornalistas que fazem avaliação de carros conseguem de fato experimentar o modelo nas situações mais diversas antes de dar uma opinião?
A resposta é sim, e por isso muitas vezes ficamos alguns dias com o carro para avaliar no uso diário, no congestionamento da cidade, na performance na estrada, numa rua de asfalto mais precário e até uso off road. Mas desta vez esta reportagem traz uma situação inédita em meus 25 anos de carreira: minha missão foi ficar três dias completos com o Porsche 911 Carrera GTS na garagem.
Claro que modelos mais exclusivos tendem a ser raros para empréstimos como este. Eu mesmo já havia pilotado (note bem, pilotar é o termo exato para o Porsche 911) o Carrera GTS em situações de pista, como em Interlagos e no Autódromo Velocitta.
Também já tinha feito outras experiências com o carro em estradas na Europa (sim, inclui a Alemanha e uma Autobahn a 250 km/h, mas isso é tema para uma outra reportagem), mas ficar assim com o carro na garagem, podendo escolher qualquer destino, foi a primeira vez.
E foi justamente nisso que pensamos na redação: afinal, como é ter o Porsche 911 Carrera GTS para o uso do dia-a-dia? Sabemos que, em condições de pista e numa auto-estrada da Alemanha sem limite de velocidade, ele é o melhor amigo que você pode ter.
Mas e na Avenida Paulista num final de tarde congestionado? E para fazer compras? E para passar nas lombadas que da rua que dá acesso ao Kartódromo Granja Viana (onde gravamos conteúdos para as redes sociais)? Pode parecer incrível, mas a resposta é: o 911 tira este desafio de letra.
Este foi o primeiro ponto surpreendente da avaliação. Se em situação de pista ele se mostra como um digno carro de corrida, como seu visual esportivo e motor turbo 3.0 de de seis cilindros e 480 cavalos de potência podem sugerir, sabia que nas ruas de São Paulo ele soube dosar bem o seu apetite por velocidade.
Note bem: quem dirige pela primeira vez um Porsche 911 vai ter uma impressão de estar guiando pelas ruas um leão enjaulado, que está o tempo todo pedindo por velocidade. Sabe na F1 quando você vê o Max Verstappen ou o Lewis Hamilton reclamando que o Safety Car está lento? Pois é, dá esta impressão com o carro da frente o tempo todo.
Controlar o ímpeto e não ultrapassar os 50 km/h da maioria das vias urbanas é algo que chega ser até desafiador se você conduz no modo Sport ou Sport Plus (e, cá entre nós, se você tem um carro desse na garagem não vai querer guiar em outro modo).
Mas o modo normal deixa, sim, o carro mais dócil. Lembre-se, porém, que estamos falando de um modelo que faz de 0 a 100 km/h em pouco mais de três segundos e tem mais de 58 kgfm de torque. O cuidado para sair “na primeira fila” de um semáforo vermelho é sem pisar totalmente no acelerador, porque você supera rapidamente o limite de 50 km/h e quando vai ver, o radar já estava lá…
or outro lado, é na estrada onde quem tem um 911 na garagem se encontra ainda mais feliz. Está certo que a atendente do pedágio me olhou com uma cara estranha (como assim este Porsche não tem pagamento automático?), mas a sensação de retomar a velocidade numa rodovia como a dos Bandeirantes ou Ayrton Senna, num dia de pouco movimento, é realmente incrível.
Também é importante tomar cuidado para não passar dos 120 km/h (limite de velocidade destas estradas). A sensação que dá é que realmente um proprietário de Porsche 911 pode até curtir uma estrada menos movimentada, mas se quiser mesmo conhecer o carro terá que fazer um “track day” em uma pista – o carro parece te pedir isso a cada acelerada.
Aí você pergunta: você não teria “dó” de colocar um carro desse para acelerar a 250 km/h num autódromo? A resposta é: não. Ele nasceu com este DNA – o cuidado, no caso, é do próprio motorista, que deve fazer um curso de pilotagem para andar em segurança e no limite seguro que este carro pode oferecer.
Mas o ponto alto da avaliação destes três dias foi sobre a surpresa com o ótimo comportamento da suspensão. Sim, é um carro “duro”, como um bom esportivo deve ser, com batidas mais “secas” e que praticamente lê o asfalto – e, no caso brasileiro, isso significa um ruído ou oscilação a cada dez metros. Mas seu uso diário, ao contrário do que se possa imaginar, não cansa, pelo contrário – ele consegue passar muito conforto e luxo para os seus passageiros.
E até mesmo para um terceiro ou quarto ocupante, é possível fazer trajetos curtos (de até 10 quilômetros) com relativo espaço. Afinal, quem não curte um passeio em um Porsche 911, mesmo que seja apertado no banco de trás?
Na minha escala de desafios, ainda faltava um para ele tirar nota 10: as lombadas. Ao encarar a primeira, também tive a impressão de que meu companheiro por três dias iria sofrer (este modelo deve ter pensado, porque eu não fiquei lá na Alemanha….).
Mas que nada, o Porsche 911 tirou de letra as lombadas e valetas que encontrei, em especial na zona oeste de São Paulo e também em Cotia. Obviamente uma passagem mais cuidadosa é necessária, mas nada que um outro esportivo de Audi ou BMW, por exemplo, já não exijam normalmente.
Por fim, outra constatação foi ver o quanto o carro desperta olhares de admiração. Já andei com outros modelos bem caros (este tem preço sugerido a partir de R$ 919 mil) e confesso que às vezes nas esquinas da cidade você leva olhares menos amistosos.
“Cara folgado, só porque tem um Porsche quer entrar na minha frente”. Mas o 911 tem muita história e carisma e isso se reflete nos olhares nas ruas. E até um certo respeito de outros motoristas e até alguns pedestres que parecem não acreditar que você está dando preferência para eles (sim, é a lei, mas o carro por vezes intimida).
Não por acaso, durante uma gravação numa parada na rodovia dos Bandeirantes, um carro esportivo se aproxima para ver o 911 e… eis que vejo Max Wilson, piloto e comentarista de F1, dando um oi para nós. Quem curte carro e velocidade é atraído na hora. Também não senti problemas em relação a segurança – mas tomei os cuidados que faço com qualquer avaliação de carro: evitar horários de madrugada, locais ermos etc.
Ao parar no último dia na garagem, notei que a minha vizinha de apartamento tinha colocado o carro em outra vaga. “Achei melhor parar na outra que é mais longe, né, só por precaução”, brincou. Brincadeiras à parte, fiquei com a “classe executiva” da garagem com mais espaço nestes três dias. Aliás, o 911, por ser um carro baixo, não dá a impressão ao ver de longe, mas é bem largo, com 1m85, e ocupa lateralmente a vaga como um grande sedan ou mesmo espaçoso SUV.
Depois, ela terminou dizendo: “cara, você tem o melhor emprego do mundo”. Ficou difícil negar – ainda mais quando olhei para trás e o Porsche 911 me olhava com aquela cumplicidade de quem aproveitou bem estes dias juntos.
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