Forçar o erre e fechar o som na última sílaba é como se pronuncia rivalidade em alemão: Rivalität. Foram os italianos, ao expandir a fronteira do Império Romano, que ensinaram aos alemães o significado do termo rivalità, que no idioma latino é pronunciado com a boca bem aberta. Alemães e italianos são chegados a uma competição. Não é por menos que nos corredores da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, a palavra rivalität é quase sempre acompanhada pelo substantivo Fiat. Em Betim, Minas Gerais, sede da Fiat, rivalità é sinônimo de Volkswagen.
Líder e vice-líder de mercado, respectivamente, Fiat e Volkswagen travam uma guerra particular no Brasil. 'É natural que ambas se tratem como rivais e que a Volkswagen adote táticas de guerrilha para retomar a liderança de mercado perdida há sete anos', analisa Paulo Rodrigues da LM Consultoria. 'São as duas maiores fabricantes nacionais que estão disputando os mesmos clientes.'
Colocamos lado a lado a recém-chegada linha de hatches 2009 Volkswagen (Fox, Polo e Golf) e o trio adversário da Fiat (Palio, Punto e Stilo). No primeiro round, o Fox que ganhou novo motor 1.0 enfrentou a versão ELX do Palio 1.0. O segundo assalto foi protagonizado pelo renovado Polo 1.6 e pelo Punto ELX 1.4. Fechando a peleja, o Golf, com o novo motor 1.6, chamou para briga o Stilo 1.8.
Fox x Palio
Primeiro assalto: acompanhe o disputado combate dos pesos-mosca bons de vendas
2° lugar: Volkswagen Fox
Pegue uma carroceria comportada, economize centavos no acabamento e estabeleça um preço mais alto que o dos rivais. E qual seria o resultado desta fórmula? Um carro de sucesso. É o Fox, o sexto mais vendido do País. A receita insossa só deu certo porque o modelo conta com outros ingredientes menos indigestos, como o eficiente conjunto mecânico, que pode ser resumido da seguinte maneira: motor esperto, câmbio preciso e suspensão bem acertada.
E mais: assim que você abre a porta, encontra um salão. Exagero dizer que Ana Hickmann (aquela loira de 1,2 metro só de perna) se acomoda com conforto, como os comerciais do carro afirmaram. Mas o espaço, não dá para negar, é o maior da categoria. Dois adultos viajam folgadamente nos bancos dianteiros e outros dois seguem com conforto no banco traseiro. O quinto passageiro, como sempre, sofre mais.
Não é apenas na fita métrica que o interior do Fox é exagerado. No acabamento interno, temos uma das maiores concentrações de plástico rígido por centímetro quadrado. Portas, console, painel, tudo é moldado em matéria plástica. Dá-se o mesmo no Palio (e, diga-se, nos demais carros de entrada), mas percebe-se que o material usado no Volkswagen aparenta qualidade inferior. O modelo também não tem porta-luvas, substituído por uma gaveta sob o banco do motorista. A fábrica diz que esta é uma solução moderna. Mas a versão ainda exportada para a Europa segue com o 'antiquado' porta-luvas.
Para o próximo ano, a Volkswagen prepara uma mexida no modelo, a primeira mais significativa desde que o carro foi lançado. Além de um tapa no visual, o Fox ganhará novo painel com quadro de instrumentos menos acanhado. Ninguém consegue se entender com aquele conta-giros minúsculo e também há dificuldade em interpretar as informações do velocímetro. Foi o que apontaram as pesquisas da marca. As pesquisas também levaram a empresa a abrir mão da modernidade e adotar o porta-luvas convencional na próxima reestilização.
Se existem alguns inconvenientes, é preciso notar que na pista o Fox não tomou conhecimento do Palio. Equipado com o novo motor 1.0 de 76 cavalos e 10,6 mkgf de torque ele é mais ágil que o Fiat, tanto nas acelerações quanto nas retomadas. O Fiat vem equipado com motor 1.0 de 66 cavalos. O Fox também é mais eficiente que o Palio nas frenagens. A suspensão é firme, mas não chega a comprometer o conforto de rodagem. Isso ajuda na estabilidade do modelo, cujo centro de gravidade é mais alto que o de um carro, por assim dizer, normal.
Prazer ao dirigir conta muito, mesmo nesta categoria de veículo. Mas se você se decidir em levar o Fox para sua garagem, prepare o bolso: comparado ao Palio, o hatch da Volkswagen é o mais beberrão e tem as peças mais caras.
1º Lugar: Fiat Palio ELX 1.0
Quem não arrisca não petisca. Se o ditado se aplica ao Palio, a Fiat está com fome. A marca arriscou ao criar uma aparência controversa ao seu modelo e, no fundo, admite que a traseira causou polêmica com sua lanterna retangular invadindo a lateral. O modelo segue em crescimento nas vendas, mas os resultados estão abaixo da expectativa da Fiat. A marca quer o primeiro lugar do pódio entre os carros mais vendidos do País.
Não é só o desenho que não empurra o Palio. Falta potência e força ao motor 1.0 de 66 cv. Para manter o ritmo na cidade ou na estrada, é preciso trabalhar constantemente com o câmbio. As ultrapassagens precisam ser bem-calculadas. Em curvas, dá para sentir claramente que falta ajuste fino no acerto das molas.
A maior virtude do Palio é o respeito que ele tem ao seu bolso. É investment grade para seu dinheiro, recomendariam as agências de risco. Comparado ao Fox, é mais barato, tem peças mais em conta e visita o posto de combustível com menor freqüência. Com álcool, chega a rodar um quilômetro a mais na cidade que o Fox.
O Palio também trata melhor o seu corpo. O acabamento não chega a ser caprichado, mas é superior ao do Fox. Detalhes que contrastam tons claros e escuros e plástico menos áspero mascaram a aparência de simplicidade. Os bancos são forrados com tecidos de melhor qualidade e ainda há apoio de braço para o motorista, vendido opcionalmente. O painel, praticamente o mesmo há mais de quatro anos, tem comandos bem-localizados e o quadro de instrumentos permite leitura fácil dos dados.
Se o Fox deixa que se alongue mais as pernas, o Palio permite que você leve uma mala extra no bagageiro: a diferença de volume do porta-malas é de 30 litros, já que a versão de entrada do Fox não tem banco traseiro deslizante para aumentar a capacidade de carga. Somando as qualidades e dividindo os descuidos, não arrisque: o petisco do Palio é mais saboroso que o do Fox.
Polo x Punto
Segundo round: a boa briga dos pesos-galo. Aqui, a luta é de gente grande
2º Lugar Fiat Punto ELX 1.4
Este carro é nacional? Foi assim, na lata, que um vizinho me fez dar meia-volta antes de entrar neste Punto cinza. 'É lindo...adorei esta frente...' E foram tantos os elogios que a primeira pergunta não foi respondida: o sujeito saiu sem saber que o Punto é feito em Betim (MG) há um ano. É, pelo menos na aparência, o mesmo carro fabricado na Itália sob o nome de Grande Punto.
Os volumes esculpidos por Giugiaro exercem fascínio, não se pode negar. Embora desenho seja algo que divide opiniões, é raro ouvir críticas acerca do estilo do Punto. Visto de qualquer ângulo, o Fiat transmite esportividade, arrojo e a elegância típica italiana. De frente, os faróis alongados e a ampla grade lembram os da Maserati Coupé, dos quais, a propósito, foram copiados. Na traseira, o toque de mestre está na junção da lanterna vertical com o vinco que marca a lateral do carro. É pura harmonia de formas e de volumes .
Por dentro, percebe-se que não foram economizados trocados na construção do carro. Tentei achar, mas não encontrei rebarbas nos plásticos que cobrem o painel e as portas. A instrumentação clara, os comandos bem localizados e os bancos confortáveis estimulam a vontade de rodar com o carro. Mas... A Fiat não se lembrou de iluminar os espelhos dos pára-sóis e também não levou em conta que os diminutos porta-copos não apóiam nem um frasco de iogurte, quanto mais um copo.
Belo, confortável, mas... anestesiado. O encanto do motorista termina assim que se solta a embreagem. O motor 1.4 não combina com a imagem de esportividade transmitida pelo desenho. Falta força, falta apetite ao Punto.
O motor rende 86 cv e conta com 12,5 mkgf de torque a 5.750 rpm com álcool para movimentar um conjunto de 1.150 quilos de peso. E é justamente aqui que o Polo, com seu 1.6 de 104 cv e 15,6 mkgf a 2.500 rpm (mais adequado aos 1.105 quilos do carro), dá uma sova no rival. Ainda por cima, o Polo é mais econômico, já que o motorista não precisa exigir tanto do acelerador nas arrancadas e nas ultrapassagens, nem trocar tão freqüentemente de marcha.
Em uma saída de semáforo, o Punto apareceria rapidamente no retrovisor do Polo que dispararia na frente. O motorista do Volkswagen poderia até admirar por alguns segundos a bela composição criada por Giugiaro antes de desaparecer.
O câmbio de cinco marchas, em contrapartida, apresenta escalonamento de marchas adequado ao temperamento do motor. Mas também padece de uma certa letargia: o curso da alavanca é longo. A suspensão é mais firme que a do Palio, mas, ainda assim, foi calibrada com o objetivo de proporcionar conforto aos ocupantes. Não se sente as irregularidades do piso dentro da cabine.
Em poucas palavras, se você optar pelo Punto, esqueça a pressa na hora de acelerar. E saboreie o que o carro da Fiat oferece de melhor: no mínimo, meu amigo, sua garagem ficará um pouco mais bela.
1º Lugar Volkswagen Polo 1.6
Há mais de 300 modelos à venda no País. Mas pode-se contar nos dedos os que valem o que custam. Um desses custo/benefício mais interessantes é o Volkswagen Polo. O compacto é confortável, moderno e, o melhor, proporciona prazer ao volante como nenhum outro carro do segmento. O carro que aparece nas fotos é o Sportline, com rodas de liga leve e ar-condicionado digital. Mas para o comparativo consideramos a versão 1.6 Flex, de entrada.
As qualidades superam os descuidos. Mas estes não são menos importantes. O Polo tem porta-malas acanhado (270 litros), preço de seguro alto e vidros elétricos como opcional. Para trocar as manivelas pelas teclas é preciso pagar R$ 3.750, valor que a fábrica pede pelo kit elétrico, presente em mais de 90% dos carros vendidos.
Rejuvenescido no fim de 2006, o Polo abandonou os duplos faróis ovais copiados do Mercedes-Benz Classe E e adotou o novo padrão estético da marca grade em V e farol coberto por lente única. Na linha 2009 o farol ganhou máscara negra e foi instalado um prolongamento à guisa de aerofólio na traseira. O trabalho maior concentrou-se na parte mecânica para resolver dois problemas crônicos do carro o escalonamento curto das marchas e a falta de força em baixas rotações.
O diferencial foi alongado de 4,533 para 4,188 e a taxa de compressão subiu de 10,8:1 para 12,1:1. Resultado: o carro ficou mais esperto em baixas rotações e ligeiramente mais silencioso e econômico em giros elevados. Na pista, ele engoliu o Punto, superioridade esperada, pois o motor 1.6 tem 18 cv a mais que o Fiat. Mas o conjunto mecânico do Polo é mais acertado e o motor mais adequado à massa do veículo. A suspensão é outro grande divisor de águas: o Polo não é tão macio a ponto de sacrificar a estabilidade em curvas. É um carro na medida certa.
Terceiro assalto: os pesos-médio partem para a briga. Façam suas apostas
2º Lugar Volkswagen: Golf 1.6
O Golf ainda é um dos carros mais divertidos que o dinheiro pode comprar. O centro do entretenimento está no conjunto mecânico. O trio formado pelo câmbio curto e preciso, pela suspensão bem calibrada e pela direção direta faz a alegria de quem curte uma pegada mais esportiva.
A adoção do novo motor 1.6 com 104 cv e 15,6 mkgf reduziu o ruído interno e derrubou o consumo de combustível, um dos principais problemas do Golf até então. A explicação está na mudança das relações do diferencial. Com força extra, as marchas foram alongadas. Com o antigo motor, a 120 km/h o giro beirava a casa dos 3.800 rpm. Agora, caiu 600 rpm. Parece pouco, mas ficou mais confortável viajar.
Uma geração atrasada em relação ao modelo europeu e com o novo desenho feito no Brasil, o Golf ganhou uma sobrevida até a chegada da próxima geração, programada para os próximos dois anos. A mudança foi leve, mas bem recebida pelos fãs do modelo. A nova grade com o VW pronunciado pode dividir opiniões; o formato das lanternas traseiras, com sua imitação de LEDs também. Mas o conjunto ainda agrada. Internamente nada ou pouco mudou. Mas o painel de dez anos ainda dá conta do recado. Voltado ao motorista num ângulo de cerca de 20 graus, ele tem comandos bem localizados e é revestido com plástico de boa qualidade.
O quadro de instrumentos iluminado em azul e vermelho permite uma boa leitura de dados. As grandes saídas de ar associadas ao eficiente sistema de refrigeração ajudam a resfriar o interior em poucos minutos. O banco largo e com abas laterais pronunciadas não deixa o corpo deslizar para os lados nas curvas.
Se o Golf trata bem o motorista o mesmo não acontece com os passageiros que viajam atrás. Se a idéia é levar três adultos no banco traseiro prepare os ouvidos para reclamação. O aperto será grande. Colabora para isto o entre-eixos curto (2,51m) e o túnel central alto (25 centímetros). Na Europa, o Golf, que em breve entrará na sexta geração, cresceu. Aqui, ele só mudou por fora, pois o espaço continua o mesmo.
Essas características podem podem desestimular o investimento no carro. Mas o maior problema do Golf não reside aí e muito menos no conjunto mecânico: é aquele que atinge diretamente o seu bolso.
O susto maior acontece na assinatura da apólice de seguro, um mal do qual o modelo nunca se livrou. Um paulistano de 40 anos, por exemplo, pagaria cerca de R$ 6 mil pela cobertura. Isso representa mais que o dobro daquilo que se pagaria pela apólice do Stilo. O que pode compensar é que o preço do Volkswagen é ligeiramente mais baixo que o do Fiat e o consumo de combustível também é menor. Mas suas peças são mais caras.
Se para você o que vale em um carro é o grau de satisfação que ele responde ao volante, o Golf é sua escolha. Mas saiba que o preço para tanto não é tão baixo.
1º Lugar: Fiat Stilo 1.8
Em dúvida quanto ao seu próximo hatch médio? Pois então, meu amigo, inclua em sua lista de desejos o Stilo. Mas não largue a revista para assinar o cheque apenas recomendo que conheça o carro antes de bater o martelo. Se o seu negócio é conforto, o Fiat é um sério candidato a habitar a sua garagem.
O Stilo é aconchegante. Os bancos são largos, têm densidade confortável, são forrados com tecido de qualidade. Há saída de ar condicionado na traseira e a lista de opcionais para aumentar seu grau de conforto é imensa. Claro que você deve conter seu entusiasmo ao eleger os acessórios, pois a lista completa pode elevar o preço a mais de R$ 72 mil. Mas o Stilo é o hatch médio que permite o maior número de configurações.
A suspensão macia não deixa que os buracos se transformem em dor na coluna. Quatro adultos viajam com espaço para o corpo e para a bagagem.
Só descarte o Stilo em uma circunstância: se o seu negócio for pegada esportiva. O motor 1.8 com suas bielas curtas é áspero. É bom nas arrancadas, mas perde fôlego em altas rotações. Seu funcionamento não é homogêneo. Câmbio e direção não têm a precisão desejada para uma tocada mais rápida. Na pista de teste, o Stilo foi superado pelo Golf nas provas de desempenho e também nas aferições de frenagem.
O desenho, formado por combinações de ângulos retos, é conservador. Neste ano o carro passou por uma leve reestilização, coisa para inglês ver, que não alterou em nada a aparência do modelo. Ganhou novas lanternas e grade, apenas. Sinal de que algo está para acontecer: o Stilo pode ser substituído pelo Bravo no fim de 2009. Até lá, nos parece a melhor escolha: é um hatch que oferece conforto, espaço e mimos.