Ka enfrenta vice-líder de vendas Palio

‘Brasileiro não gosta de carro popular. Compra porque é mais barato. E, se tivesse mais renda, optaria por um maior’. A frase do ex-presidente da Citroën do Brasil Sergio Habib é um resumo da situação na qual se encontra o mercado de populares no País. Cada vez mais, eles têm perdido em volume de vendas para segmento superiores, como 1.4 e 1.6. De acordo com Habib, o segmento cresceu 21% em 2007 contra uma expansão de 35% no mercado total de automóveis. Levando-se em consideração que o popular (carros equipados com motorização 1.0) ainda é a opção mais em conta para o brasileiro – não é à toa que a Volkswagen vai manter o campeão de vendas, o Gol City 1.0, na linha, mesmo com a chegada da quinta geração em julho -, testamos duas opções, o Palio Fire, vice-líder na categoria, e o Ford Ka, que tem mostrado um ritmo positivo de crescimento desde o início das vendas da nova geração, no início do ano. De acordo com números da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), foram 1.025 unidades em janeiro deste ano contra 6.366 em abril. A definição de popular vai contra o bolso do consumidor brasileiro, já que mesmo com motor 1.0 e quase sem equipamentos, os modelos deste segmento possuem preços acima de R$ 23 mil (preço aproximado do Fiat Mille Fire) – o equivalente a mais de 50 salários mínimos. Este é o caso dos modelos que travam este comparativo: o Ka de entrada custa R$ 25.490 e o Palio Fire sai por R$ 26.540. Com estes valores, ambos são equipados com motor 1.0 bicombustível e possuem configuração duas portas (a versão do Palio testada nesta matéria é de quatro portas, R$ 1.660 mais cara). Ka oferece o melhor custo-benefício Na versão de entrada, o Ford Ka conta com itens de série encontrados como opcionais no Palio, como travas elétricas e travamento automático das portas a partir de 15 km/h. Reformulado no fim do ano passado, tem como principal desvantagem o fato de estar disponível somente com configuração duas portas, já que foi baseado na carroceria do Ka antigo. Apesar disso, o projeto ganhou modernidade, sem perder identidade visual. Na versão Fire, o Palio mantém a carroceria da geração anterior, enquanto o restante da linha já incorpora o visual da geração mais recente, lançada no início do ano passado. Diferentemente da oferta da Fiat, o Ka é oferecido por catálogos, ou seja, os opcionais são divididos em grupos e não são vendidos separadamente, como faz a montadora italiana. O Ka de entrada vem com travas elétricas, travamento automático a 15 km/h, abertura do porta-malas no painel, controle remoto com abertura e fechamento das portas e porta-malas, alarme, banco traseiro rebatível, rodas de 13 polegadas com calotas e espelho de cortesia para motorista e passageiro. O Palio Fire vem praticamente pelado. Espelho de cortesia para motorista e passageiros, rodas de 13 polegadas com calotas, banco traseiro rebatível e o sistema FPS (Fire Prevention System), com interruptor inercial de combustível, válvula anti-refluxo de combustível e acabamento interno com materiais que evitam a propagação das chamas são os principais equipamentos de série. A lista de opcionais para o modelo, porém, é extensa: ar-condicionado, desembaçador com ar quente, direção hidráulica, airbag duplo e freios ABS, além de vidros elétricos, entre outros. Em termos de motorização, não há muito o que se esperar de um propulsor de 1 litro. O 1.0 RoCam da Ford é mais potente, mas perde força na retomada, fazendo com que o barulho do motor se torne até um pouco incômodo. São 69 cv de potência (gasolina) e 73 cv (álcool) a 6.000 giros. O torque, atingido a 4.750 rotações, é de 9 mkgf (g) e 9,4 mkgf (a). O Palio, com o 1.0 Fire, gera 65 cv (g) e 66 cv (a) a 6.000 rpm. O torque máximo é registrado em rotações mais baixas: 9,1 mkgf (g) e 9,2 mkgf (a) a 2.500 rpm. Apesar de o motorista ter de pisar fundo no acelerador do Ka para ultrapassar e subir ladeiras, o compacto da Ford possui um conjunto mecânico mais equilibrado. No Palio, a embreagem e o câmbio parecem ter folga, o que dá uma sensação maior de instabilidade do veículo. Outro ponto a ser repensado no Palio é a forma de ajuste do banco do motorista. A alavanca, que sobe e desce o banco para frente e para trás, não oferece uma regulagem precisa. Na parte interna, o painel do Palio não conta com conta-giros nem relógio digital, presentes no Ka (conta-giros opcional). O espaço interno é maior no Fiat, assim como o seu porta-malas. São 263 litros no Ford contra 290 litros no Fiat. Avaliando o conjunto motorização e oferta de equipamentos, porém, o Ka vale mais a pena que o Palio. Diferença para motor mais forte não passa dos R$ 6.500 No caso do Palio, a versão Fire vem para ser o ‘pé de boi’ da linha. Sem equipamentos, é a alternativa mais barata para quem quer um carro somente para trabalhar, e que não faz questão de itens de conforto, ou para ser a segunda opção na garagem. O Ka 1.0 ainda pode valer a pena para quem não quer desembolsar mais que R$ 26 mil por um carro. Diante da versão ELX 1.4 do Palio, a diferença é de R$ 5.260 (considerada a versão com quatro portas do Fiat). Já da versão básica do Ka 1.0 para a 1.6 são R$ 6.500. Vale lembrar que toda a linha Ka tem duas portas. A comparação entre os dois modelos deixa uma conclusão clara. Cada vez mais, os populares tendem a perder espaço no mercado. A combinação de um prazo mais longo para financiamento aliado a um juro mais baixo tem dado e continuará dando impulso à venda das opções com motor 1.4 e 1.6. A diferença entre as versões 1.0 e 1.4, ou 1.6 no caso do Ka, não passa de R$ 6.500. Motor mais forte e equipamentos de conforto e segurança podem valer a pena por este valor.