Equilibrado, rápido e atraente, mas não exatamente nessa ordemSe alguém perguntar ao editor de qualquer publicação automotiva, seja no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo, sobre qual seria um dos seus desejos... Temos certeza de que entre as possíveis respostas incluiria-se: guiar um carro incomum, preferencialmente um que não pertencesse ao menu local de ofertas. Pois bem, nós, aqueles caras que só pensam em automóveis, e sonham com pistas (sem limites de velocidade) bem pavimentadas etc, encontramos uma jóia rara. Bem, na realidade foi a jóia que nos encontrou. Mas, isso não importa.Parte do acervo particular de um dos bons importadores de automóveis que habitam por estas bandas, o objeto deste artigo, um Mazda RX-8 (Uau!), foi um achado e tanto. O sujeito, muito educado e um bom papo, estava re-calibrando o sistema de ignição e injeção do carro... Imaginem! Justo no dia em que fazíamos a ronda pelos lugares onde costumamos encontrar os amigos e, às vezes, peças como este RX-8, que mereceu toda a nossa atenção. O carro, com pouco mais de 12 mil quilômetros, recebeu um kit nipônico que inclui um turbocompressor, coletor de admissão e filtro, coletor de exaustão e um novo módulo de ignição. A ignição, aliás, é figurinha carimbada e nossa conhecida, desde o Clio 1.6 DOHC que preparamos (133,4 cv lembram?). Com as modificações, o motorzinho, e podemos tratá-lo dessa forma sem torná-lo inferior, que desloca apenas 1300 cc viu sua potência saltar para 345 cv @ 8700 rpm. A rotação de corte da ignição fica ainda mais acima, em 9500 giros.Então, papo vai e papo vem, acabamos chegando a um denominador comum e interessante. Conseguimos agendar um dia de avaliações. A torcida, então, era para que não chovesse. Não queríamos expor os sapatos Bridgestone a condições adversas. O ambiente da avaliação seria a nossa pista de provas particular, um local onde até o vento tem dificuldade para fazer as curvas. Situada na região serrana, ela é perfeita para as nossas necessidades.É hoje! Como pedimos em nossas orações antes de dormir, embora estejamos em pleno verão, o dia recriava a primavera. Pela manhã, o termômetro de casa apontava 26° C. Como se diz por aqui: não vai prestar!Para os menos familiarizados com a série RX-8, ele é o sucessor do RX-7 o mais entusiasmado dos Mazda RX e o seu motor é do tipo rotativo (Wankel), com três rotores. Extremamente equilibrados, mas ébrios inveterados, os Wankel são perfeitos para adoção de sobre-alimentadores (turbinas), pois admitem trabalhar com pressões bem elevadas. Bom, mas essa faceta acabou se mostrando muito mais teórica do que prática. Com um quilo e meio de pressão e durante o curvilíneo up hill (trecho de subida), perceberíamos que a temperatura não é um problema entre aspas. Mas,...Nos encontramos na hora marcada nós chegamos mais de 30 min. antes , mas, sem querer transparecer a ansiedade, as primeiras palavras, depois do educado bom dia, sugeriam um café, uma água etc. Com cuidado para não sermos descorteses, perguntamos sobre a calibragem dos pneus Bridgestone 225/45R 18, já sugerindo uma pequena elevação da mesma para evitar surpresas. Quebrado o gelo e depois de alguns minutos de conversa, perguntamos qual era a gasolina que estava no tanque (Podium) e sobre o comportamento do carro após as modificações que fizeram sua potência saltar 104 cv, saindo dos 241 cavalos originais para 345 cv. Mais do que potência, disse o proprietário, o carro recebeu modificações sobre o conjunto de suspensão: amortecedores com possibilidade de ajuste e molas mais encorpadas. Mas, a altura livre do solo permaneceu a mesma (119 mm).Papo vai, papo vem e nós então sugerimos começar a trabalhar. O tempo urge, o dia é curto e tínhamos mais de 350 km para percorrer durante a avaliação.Com a chave do carro na mão, me dirigi à porta do motorista e entrei. Aqui vale ressaltar uma certa dificuldade para acessar a posição atrás do volante, mas como se trata de um esportivo essas coisas são desculpáveis eu também tenho alguma dificuldade para me posicionar ao volante dos Porsche 911. Já acomodado, com o banco (ajustes elétricos), volante e retrovisores na posição adequada, um breve momento de percepção... Com a linha de cintura alta, o topo da porta fica na altura do ombro; as janelas com pouca altura tornam o ambiente intimista e o volante, de bom tamanho e com boa pega, sugerem um comportamento entusiasmado. A boa visualização dos instrumentos e o grafismo dão o toque final, juntamente com a boa disposição da pedaleira. A alavanca de câmbio, muito baixa, é um demérito inicial, mas não chega a comprometer a tocada. Aliás, as relações muito curtas de câmbio e diferencial e a pequena distância entre os pontos de engate casam perfeitamente com a proposta.A estas alturas, claro, já estávamos com o motor ligado, mas e o ronco? Era difícil entender como podia ser tão difícil de escutar o compacto Wankel trabalhando. Por outro lado, a velocidade com que as rotações subiam era motivadora. Claro que o carro possuía sistema de áudio com CD Player etc, etc... Mas, a única trilha sonora que desejávamos ouvir era a que atendia pelo nome Wankel.Rodamos uns 35 km na cidade antes de chegarmos à pista, um trecho onde foi possível perceber, por exemplo, a boa calibragem dos elementos elásticos da suspensão e uma carência da direção: ela deveria ser mais rápida (menos desmultiplicada) e exigir, no máximo, 2,2 voltas de batente a batente como no Alfa Romeo 156. Mas, a carga atribuída ao volante é perfeita.Já familiarizado com o carro e chagando ao local da avaliação fizemos uma pausa estratégica. Deste trecho em diante seriam mais de 145 km entre subidas, retas curtas e longas e descidas. Despachamos o carro de apoio onde estava nosso fotógrafo e seguimos.Uma das maiores preocupações era avaliação da rigidez estrutural da plataforma. Afinal, a meia-porta traseira e a inexistência de uma coluna B poderiam fazer muita diferença nas tomadas de curva de baixa, com freadas mais fortes, e nas curvas de média-alta velocidade.As marchas se esticam e se seguem e começamos a gostar mais do trem de força, que também se torna mais audível e estridente acima de 6000 rpm. Aliás, essa seria a faixa do conta-giros, entre 6 e 9 mil giros, onde o ponteiro deveria permanecer daí em diante. Como observação, vale destacar a boa percepção do encosto do banco, empurrando as nossas costas, acima de 5000 rpm.As curvas começam a surgir e percebemos que aquela brincadeira do câmbio para que te quero é uma realidade vital. Com o torque máximo (31,61 kgfm) fincado sobre a marca de 7.500 rpm e tendo à mão um esportivo com mais 1350 kg tudo que tínhamos que fazer era cambiar. O percurso de subida foi muito interessante. Nas curvas de baixa, a maioria delas, chegávamos em terceira, às vezes, quarta e sempre saíamos em segunda sem maiores problemas. Os freios a disco e ventilados nas quatro extremidades, com ABS, resistiam bravamente, mas o pedal já se tornava emborrachado.Nas retas mais longas, a percepção de aceleração e a facilidade com que as rotações subiam ainda nos entusiasmava, sempre lembrando que se trata de um esportivo com motor rotativo com apenas 1300 cc. Durante a subida, o piso irregular e a exigência do trem de força, fizeram a temperatura subir e ocasionaram perda de potência. Tivemos que parar para verificar o problema, que se mostrou imediatamente. A porção dos dutos do turbo onde se encontrava a válvula de alívio desencaixou. Nada que uma pequena chave Philips não fosse capaz de solucionar.Ainda intrigados com a rigidez estrutural, chagamos à descida. Agora seria a hora de percebermos as torções mais acentuadas, caso elas acontecessem. Então, é verdade que a plataforma do RX-8 é muito rígida, mas a torção inevitável acabou sendo percebida. Os freios também deram sinais de estresse e, em algumas situações, se não fosse o fato de estarmos acostumados com freios sem assistência, poderiam ter apresentado certa dificuldade.Guiar o RX-8 foi uma experiência única. O motor que gira alto, apenas 1000 rpm separando os picos de potência e torque coisa de pista , e um câmbio muito bem escalonado com um diferencial curto, exigência do Wankel, tornam a tocada mais agressiva algo eletrizante. Isso, claro, para não mencionarmos o sucesso que esta carroçaria faz por onde passa. Sob este aspecto, aliás, o que vale é o fato de que a traseira do carro é bem bonita, pois é ela que os motoristas mais vão ter a oportunidade de admirar na estrada.Finalizamos o dia e as avaliações sob chuva. Um teste completo!