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Royal Enfield Bullet: rodar apenas pelo prazer de rodar

Ela é barata e vem com um visual do século passado. Mas o que podemos esperar da moto mais em conta da marca?

22/05/2017 - Texto e fotos: Thiago Moreno / Fonte: iCarros

Quando eu acompanhei o retorno da Royal Enfield ao Brasil, quase não acreditei nos preços. R$ 18.900 numa moto de 500 cilindradas parecia algo irreal, ou alguma campanha para chamar a atenção. Mas é isso que a Bullet 500 oferece. Claro que tem lá seus reveses, mas a moto quer te conquistar por muito mais que apenas números num papel.

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Primeiro, apenas os fatos

A Bullet têm motor monocilíndrico refrigerado a ar de 499 cm³ a gasolina com injeção eletrônica gerando 27,5 cv de potência e 4,2 kgfm de torque. O câmbio tem cinco marchas e a transmissão final é feita por corrente. A partida pode ser feita por pedal, mas há um motor de arranque convencional para a partida elétrica por botão.

A suspensão usa um garfo telescópico na dianteira com 130 mm de curso. Na traseira são dois amortecedores a gás com reservatório externo e 80 mm de curso. O freio dianteiro é a disco com 280 mm de diâmetro e a tambor na traseira. A roda dianteira é de 19 polegadas com pneu 90/90 e de 18 polegadas com pneu 110/80 na traseira.

Nas medidas, tem 2,14 m de comprimento, 0,80 m de largura, 1,08 m de altura e 1,36 m de entre-eixos. A distância em relação ao solo é de 140 mm. O peso em ordem de marcha é de 195 kg. O tanque acomoda 13,5 litros de combustível.

A Bullet é a única das opções da Royal Enfield que não oferece freios ABS como opção. Além disso, o painel de instrumentos é dos mais prosaicos: apenas velocímetro, odômetro total, uma luz espia para a reserva de combustível, outra para problemas na injeção eletrônica e as convencionais de pisca, farol alto e neutro. Ah, ela tem afogador também (e ele funciona), por mais que isso não faça sentido.

Saiu mais barato que a minha terapia

Vou ser bem sincero com vocês: a primeira impressão ao andar em qualquer um dos modelos da Royal Enfield não é das melhores. A moto vibra demais, não tem fôlego em altas rotações e o freio poderia ser classificado apenas como “adequado”, pra não dizer outra coisa. Mas todos temos aquele amigo que também não causou a melhor das impressões e está conosco até hoje, apesar de suas falhas que provavelmente já aprendemos a amar. Pareceu terapia? Foi de propósito. Apesar da proposta bem velha guarda, a Bullet me abriu os olhos para novas perspectivas.

Alerta de textão – Eu cresci em meio a diversas motos bem clássicas do mercado brasileiro graças ao meu pai. Cansei de ver Honda XLX (250R e 350R), Yamaha RD 135 e DT 180 na garagem. Mas eu nunca tive uma moto antiga pra chamar de minha. Quando pintou a oportunidade de comprar uma Honda CB400 1984 (famosa Tucunaré) com meu pai, nem pensei duas vezes.

Alguns anos, três cabeçotes, uma corrente de comando e diversas juntas de motor depois, eu nunca consegui deixar essa moto 100%, algo sempre quebrava, caía ou pingava. Cansei, estava acima das minhas capacidades (mecânicas e financeiras) arrumar aquela CB. Desisti e virei as costas para as motos antigas e comprei uma moto maior, mais nova  e mais confiável para pegar a estrada, único ponto fraco da minha amada Suzuki Intruder 125 2007 que eu comprei 0km.  É uma Suzuki Boulevard M800 se vocês precisam saber.

Tamanha decepção me fechou para as motos antigas. Tanto que, na chegada da Royal Enfield, o que mais me chamou a atenção foi o preço, não o visual. Pense bem: que moto acima de 300 cilindradas você compra hoje por menos de R$ 20 mil? Poucas e a Royal Enfield tem duas opções, pois a Classic 500 (tem a mesma mecânica da Bullet) está R$ 19.900.

Eu não estava preparado para Bullet, talvez esse seja o motivo do estranhamento a primeira vista. Mas eu sabia que esse estilo de moto combinava mais com uma pequena estrada sinuosa do que qualquer outra coisa, então prontamente sai em direção à Estrada Santa Inês, que liga São Paulo (SP) à Mairiporã (SP). São alguns quilômetros de asfalto estreito e mal cuidado, mas cheio de curvas.

Parei no caminho para mostrar a Bullet para meu pai sem muitas esperanças, pois ele é motoqueiro “raiz”, então “apelo retro” não faz parte do vocabulário dele. Ele obviamente deu partida no pedal com a propriedade que apenas quem já levou muita porrada de pedal de partida de XLX 350 na canela pode ter, lentamente dando corda no pedal até achar o ponto morto superior do pistão. A moto pegou de primeira. Eu andei mais tempo que ele na moto e não aperfeiçoei completamente essa técnica.

Meu pai elogiou bastante o conforto da suspensão e, de fato, o sistema filtra bem a buraqueira da rua lá de casa sem ser molenga graças, em parte, à progressividade do amortecedor traseiro a gás. Mas ele também gostou muito do visual e da aparência robusta da Bullet, com todos os pontos de manutenção facilmente identificados e fáceis de acessar. Por essa eu não estava esperando, muito menos um “pode comprar” do meu pai direcionado a minha pessoa.

Visita terminada, toquei para Mairiporã. No caminho, muito trânsito na Zona Norte da capital, fora o asfalto cujo adjetivo que melhor o descreve é muito deselegante para ser citado aqui. Mas entre carros parados, asfalto ruim e ruas cheias por conta dos pequenos comércios locais fizeram a Bullet se sentir em casa. Nada de pancada nas costas, a moto esterça muito bem e disponibiliza bastante torque em baixa para se enfiar (e sair) entre os carros. Uma cena muito parecida com as ruas indianas. Entenderam a referência? As Royal Enfield vêm importadas de lá.

Quando cheguei na estrada, o sol já começava se por e poucos carros estavam circulando por lá. Cenário quase de filme. Foi lá que tudo fez sentido, não só a Bullet. Lá, entre os raios de luz batendo nos cromados da moto e o Rolling Stones tocando na rádio, foi que descobri que a Royal Enfield não se deixa conquistar fácil. Você tem que se adaptar ao ritmo dela de fazer as coisas. Usar marchas mais altas para sair das curvas alivia a vibração e torna as retomadas mais rápidas. Frear mais cedo também melhora a impressão de que os freios não são fortes. A sensação de peso da Bullet passa quando você se acostuma com o quanto você precisa, na ordem, frear, reduzir, dar esterço, inclinar e retomar para fazer as curvas. A moto vira uma pena depois que você descobre o ritmo.

E eu estava lá nessa situação pitoresca rindo a toa, realmente aproveitando o passeio. Estava eu correndo? Não, uma olhada mais atenta no velocímetro revelou que eu variei o role inteiro entre 60 km/h e 80 km/h. A Bullet não é para correr, é para aproveitar. Foi nesse momento que tudo fez sentido. Não era a moto que era lenta, ou ruim, eu que tinha me fechado para aproveitar experiências novas. Eu não queria gostar da Bullet porque ela podia me lembrar da finada CB400 que eu nunca consegui arrumar.

E lembrou, mas só os momentos bons em que ela estava funcionando. Eu não quis me abrir para a possibilidade de me decepcionar de novo. Eu nunca me perdoei por ter desistido da CB, mas a Royal Enfield mostrou que posso ter toda essa experiência única de novo, sem muitos dos defeitos. E também que eu posso me perdoar por não conseguir tudo o que eu quero e mais: perdoar uma moto por seus defeitos até certo ponto.

O segredo é se abrir para o que a Bullet tem a te oferecer: um passeio tranquilo. Relembrar o andar de moto apenas pelo prazer de andar de moto, algo que eu não fazia há anos, e se deixar disponível para desfrutar de experiências novas ao invés de se fechar para elas com medo da decepção. A Royal Enfield vai te vender apenas uma moto, sem frescuras, sem complexidades, sem um desempenho fenomenal ou fácil de se acostumar. E foi esse processo muito similar ao de se fazer um novo amigo que me deixou de joelhos pela Bullet. Se abra para o novo, mesmo que ele pareça velho!

Aqui acaba o textão (Conclusão)

Mesmo depois de tantas boas histórias para contar da Bullet, após sete dias e uns 500 km com a moto, tem coisa pra melhorar sim. Um odômetro parcial ou um marcador de combustível podem ser boas adições para a Royal, pois a luz de reserva é imprecisa e difícil de confiar. O freio traseiro poderia ser um pouco menos borrachudo. Além disso, a mangueira do freio dianteiro fica comprimida contra o tanque quando se esterça o guidão todo para direita.

O torque do motor vem todo em baixas e médias rotações, depois perde-se fôlego. Até 110 km/h, ela acelera como um trem. Para segurar 120 km/h já fica fora da zona de conforto da moto – e do piloto, porque a vibração é alta nesse ritmo.

Se você, diferente de mim, não gosta de moto que não tem nada a esconder (leia-se vibrações e escutar todos os barulhos dos componentes do motor em funcionamento), vá ver uma naked, ou uma trail que são mais confortáveis e têm melhor desempenho.

Há outras questões de ordem mais prática. Como o fato de haver apenas uma loja da marca no Brasil, na capital paulista. Ou ainda a primeira revisão ser feita com apenas 500 km e as demais com curtos intervalos de 3.000 km.

Mas, por esse preço da Bullet, não há equivalência no mercado para visual, torque e potencial para gerar histórias incríveis. Quando foi a última vez que você rodou só pelo prazer de rodar? Todos os dias em cima da Royal foram o mais puro prazer de rodar. Agora com licença que eu preciso ver quantas motos eu posso por na garagem do prédio antes de o síndico me aplicar uma multa.
 

 

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