Minha última cobertura do Salão de Detroit havia sido em 2007, meses antes de estourar a crise econômica gerada nos Estados Unidos. O salão completava 100 anos de existência e estava em clima de festa. Foi o ano em que Ford Mustang e Chevrolet Camaro deram as caras como releituras modernas das suas carrocerias da década de 70. O salão estava abarrotado, tanto de pessoas, como de fabricantes de carros.
Na época, um abismo separava o mercado brasileiro do americano. Por aqui, o salão de 2006 tinha sido um fiasco - para se ter uma ideia, a manchete da Chevrolet foi o show que o então dirigente da montadora, Ray Young, protagonizou com uma guitarra na mão.
Em dezembro do ano passado, ainda no Brasil, a pouca divulgação de notícias sobre o evento americano, no entanto, dava pistas de que não haveria nenhuma grande estreia na feira. Pois bem. Quatro anos, milhares de empregos perdidos e muitas falências na indústria automotiva depois, retorno a Detroit.
A aparência da cidade não mudou, a não ser pelo frio bem mais rigoroso deste inverno, que chegou a -12°C na semana do NAIAS. A primeira impressão, porém, foi positiva: os jornalistas ainda comparecem em massa ao evento, sinal de que o país está se recuperando. No ano passado, mesmo com a perda de posição de maior mercado para a China, o crescimento do segmento automotivo norteamericano foi de 10%.
Da última vez que estive aqui, fiquei impressionada com os shows feitos durante as estreias dos carros: malabaristas, palhaços, cantores famosos... Dessa vez, somente os executivos participavam das coletivas e, muitas vezes, aplaudiam sozinhos após finalizarem seus discursos.
A edição 2011 de Detroit teve lançamentos sim, mas grande parte deles para o mercado norteamericano, diferentemente do que acontecia antigamente, quando o NAIAS anunciava muitos dos projetos que estariam nas ruas do mundo inteiro meses depois. E, em vez de picaponas e utilitários enormes, a direção aponta para carros pequenos, econômicos e não poluentes, sobretudo elétricos e híbridos.
Ainda se vêem muitos cavalos e esportividade nos estandes. Vários ícones americanos, no entanto, têm dado lugar a veículos menores e modelos de luxo de marcas europeias. A maior parte das estreias veio de fabricantes de fora, como BMW, Mercedes-Benz e Audi.
A má notícia é que Detroit perdeu um pouco da sua identidade e tradicionalismo. A boa nova, no entanto, é que o patriotismo americano está dando lugar a uma globalização que busca, sobretudo, preservar o meio ambiente, por meio de veículos menores e ecologicamente corretos.